Mamãe Cida levantou cedinho, ajeitou os cabelos, lavou o rosto.
Em seguida, gritou:
Acordem, crianças! Vamos, que está na hora da escola!
Naldo
pulou da cama e esfregou os olhos. Sentiu o cheiro do café fresquinho
e imediatamente imaginou: pão quente com manteiga.
Ficou com água na boca, só de pensar.
Chamou
seus dois irmãos, Juca e Rebeca. Juntos, tomaram café,
ouvindo as recomendações da mamãe.
Cuidado, vocês não podem e não devem conversar nem
aceitar nada de pessoas estranhas. Só carreguem embrulhos da
Vó Chiquinha e do Vô Firmino. Quando saírem do colégio,
venham direto para casa. Se ficarem jogando totó ou soltando
pipa, vou saber e a palmada vai cantar no bumbum de vocês.
No
caminho, as crianças tentam adivinhar a merenda. Naldo achava
que ia ser macarrão com carne moída. Juca queria frango
com arroz. Todos erram. A merenda foi mingau de sagu.
A volta para casa foi animada. Compraram balas e sorvetes para dividir
com os coleguinhas.
Ao chegarem, Rebeca abraça a mamãe, beija-lhe a testa
e se faz poeta:
Eu sou Rebeca sapeca,
Juca e Naldo meus irmãos,
Totó, nosso lindo cãozinho.
Maneco, o pai violento.
Cida, mãe, mãezinha,
flor bela e carinhosa,
rosa que não tem espinhos.
Seus tapas são como guias,
que nos ensinam os bons caminhos.
E Cida sorriu, vaidosa e emocionada.
Depois, todos trocaram de roupa, lavaram as mãos e tomaram lugar
à mesa.
Naldo avisou:
O almoço é delicioso: asa de frango com angu.
Rebeca fez beicinho:
De novo?
Mamãe trouxe os pratos, dizendo:
Acho bom comerem sem reclamar. Saco vazio não fica em pé.
Vamos agradecer a Deus pelo almoço. Meus filhos, vocês
são felizes. Sei de crianças que há muito tempo
não têm o que comer. Não têm casa e nem quem
cuide delas.
Todos almoçaram animados. Depois foram brincar, modelando carrinhos
e bonecos de barro.
Passado algum tempo Cida lembrou:
Está na hora de fazer os deveres de casa, meus filhos.
Mãe, por favor, deixa pra depois, que hoje é sexta-feira,
reclamou Naldo.
Aquelas palavras soaram forte e machucaram o coração de
quem as ouviu. De repente, todos pensaram a mesma coisa: Como
será que papai vai chegar? Depois que terminar o serviço
na casa de dona Fifinha, com certeza ele vai passar no boteco da esquina.
Vai gastar todo o dinheiro em cigarro e bebida.
Naldo rezou em silêncio:
Os pregos que feriram Jesus,
a cruz que ele carregou,
não tiraram daquele coração
a flor chamada amor.
Eu lhe peço,
Cristo, meu redentor,
que nos cubra com seu manto
e nos sustente na dor. Amém.
Não
demorou muito tempo, o portão foi aberto a pontapés.
Maneco
chegou completamente bêbado, gritando:
Olha aqui, gente! Acabem logo com a brincadeira e desapareçam
da minha frente, que eu não estou bem.
...
|