Prefácio
Devo
levar a vida como uma formiguinha?
Rua
Barão de Itapetininga, Centro, São Paulo; manhã
de junho. Eu, no centro da maior cidade do Brasil. Todas as manhãs,
passo por essa rua, aproximadamente às sete e meia da manhã,
para o meu petit déjeuner, antes de chegar ao escritório,
e me deparo com crianças dormindo sob uma abertura próxima
a uma galeria chamada Califórnia.
São
crianças de todas as idades, raças e cores; algumas
são muito bonitas; mas, de alguma forma, preferem os perigos
das ruas e dispensam a proteção dos pais (com quem o
risco é maior). Outras perderam os pais. As FEBEMs, proteção
do governo? Não. Melhor ficar nas ruas.
Como
ficar indiferente? Como entender? Nas escolas não me ensinaram
nada sobre tudo isso.
Se fôssemos formigas, tudo seria mais fácil; as formigas
não precisam questionar nada, só pensam no trabalho
e na perpetuação da espécie. Nada mais. Devo
viver como uma formiguinha? Não tenho certeza se vivo de forma
diferente de uma formiguinha. O que realmente eu faço para
além de mim mesmo? O que é possível fazer? O
que eu sei fazer? O que um poeta pode fazer?
Um poeta faz o que lhe impõe a inspiração oriunda
das musas, do espírito da divindade; a missão do poeta
é transmitir à sua espécie humana as mensagens
recebidas. Tudo é escrito
Nas
páginas da alma, que por sua vez, transpira para as páginas
da consciência e, finalmente, exterioriza através dos
símbolos da
linguagem escrita ou verbal. É desta forma que um poeta, um
escritor, um músico, todos os representantes do mundo da Arte,
recebem as suas inspirações, que são sempre mensagens
de: conhecimento, alegria, rudimentos básicos de orientação
para a elevação da alma humana e desenvolvimento intelectual,
viabilizando a evolução espiritual.
O que mais, além da evolução espiritual, poderia
interessar aos deuses, no que concerne à espécie dos
seres humanos? As mensagens não pertencem ao poeta, ao escritor,
ao artista, enfim, não são direcionadas, exclusivamente,
para o instrumento físico usado para a recepção;
as mensagens são úteis para aqueles que têm a
sensibilidade de percebê-las e fixá-las na própria
consciência. Os poetas e todos os transmissores dessas mensagens
são, coercivamente, usados pelos deuses.
A recompensa dos poetas é o prazer de receber em primeira mão
as mensagens impressas diretamente na alma; o toque místico
dos dedos das mãos divinas nas linhas da sua alma provoca êxtase;
orgasmo mental ao cérebro. Aqueles que as recebem em segunda
mão, as mensagens já transformadas em símbolos
gráficos ou oral, sentem um prazer mais abrandado, pois o cérebro
é quem recebe em primazia e, em seguida, transfere à
alma; ao contrário do poeta, as inspirações primam
pela alma, objetivando alcançar o cérebro.
Não sei quais os critérios usados pelos deuses na escolha
dos poetas, no entanto, sei que escolhas erradas podem provocar danos
à mente humana; só os verdadeiros poetas têm a
faculdade de discernir os códigos das mensagens, com veracidade.
Um dom é uma dádiva divina que exige desenvolvimento
com desvelo e usufruto impessoal.
