O Cavalo do Cão

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A Lenda

Em 1729, a Família Real do Daomé, atual Benin, na África, foi convidada em sua capital Abomey, para um Bebé (festa de comemoração de boas colheitas), na capital Yorubana dos Oyós, na hoje Nigéria.

O convite foi aceito, apesar de os dois reinos estarem com as relações estremecidas, devido à guerra entre ambos, dois anos antes, quando Agadjá sucedeu seu irmão Alladá no trono do Daomé. Exatamente naquele ano de 1729, Agadjá passou a controlar todo o litoral daomeano, obtendo a preferência dos mercadores ingleses e portugueses no comércio de escravos para as colônias das três Américas. Muitos desses escravos vendidos aos mercadores eram oriundos das tribos que compunham o grupo Yorubá, capturados nas guerras intertribais entre o Daomé e Oyó ou Ibadan.

Oyó não via com bons olhos o domínio litorâneo dos daomeanos, que faziam do porto de São Jorge da Ajuda (Ouidah) e Elmina um próspero entreposto de venda de escravos. Era preciso tentar minimizar os atritos entre os dois países, e a melhor forma seria através deste convite.

Por outro lado, Oyó sabia que a família real do Abomey detinha o poder do Leopardo, que lhes facultava a transmutação do corpo em qualquer outra forma animal e o conhecimento total da Ninfa Aziri (senhora da vida), que lhes dava a fartura da água e do ouro. Conhecer o segredo do vodu daomeano era o maior objetivo deste convite feito à realeza daomeana.

Abomey era uma capital situada nas serras ao norte do Daomé, cercada de florestas e muitas cachoeiras. A família real era composta em sua totalidade pelo grupo Fon, herdeiro natural de Moremi, grande Rainha-Gata que cem anos antes reivindicou o trono da Rainha-Mãe de Benin para os Fons, trono este datado presumivelmente dos anos 600 antes de Cristo.
Do alto destas montanhas os Fons controlavam todas as demais tribos que compunham o famoso e temido grupo étnico conhecido por Gêge, integrado pelos Mahíis, Sombas, Minas, Baribas, Kotocolis, Ewes e Gás. Convite recebido, cinco princesas, dois príncipes e todo um grupo de sacerdotes, sacerdotisas, damas da corte, serviçais, mucamas e servos colocaram-se a caminho de Oyó, a capital dos Yorubás. Recebidos pelo rei dos Oyós, Obá Ayibi, instalaram-se na corte vivendo os prazeres da comemoração do Bebé.

Apesar de a miscigenação étnica ser comum entre as realezas dos impérios africanos, esta não era bem vista pelos Fons, em razão das lendas às quais eles eram vinculados e em que acreditavam piamente. Em regra geral, os Fons, Mahíis e Ewes acreditavam numa herança genética que mantém o clã vivo e perpetuado, e na capacidade de manipulação desta herança genética através de ervas e rituais do vodu, programando assim sucessores e sucessoras com cem anos de antecedência, determinando inclusive o biótipo físico dos mesmos.

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