O Cavalo do Cão

Prefácios:


O livro louva-se em grande pesquisa histórica e doutrinária

José Sarney

O Maranhão decididamente é um lugar mágico. Tem encantados e encantamentos. Sua mitologia é rica. As lendas variadas. Quem, em São Luís, nas noites de Sexta-feira, não ouve o arrastar de correntes do coche de Don’Ana Jansen pela Rua do Passeio rumo ao Cemitério da Saudade, no final daquela artéria? Quem não ouviu falar da serpente que envolve a Ilha, no fundo do mar, plácida mas vigilante, a tal ponto que até os construtores do Porto de Itaqui tiveram que render-se a sua majestade? Qual embarcadiço ou pescador não viu nas imediações da praia dos Lençóis, arquipélago de Maiaú, município de Cururupu, no litoral norte, a figura legendária de D. Sebastião metamorfoseado em um touro negro? Ou embarcações fantasmagóricas e sobradões coloniais com as açafatas do reino a emergirem das profundezas.

Os portugueses continentais e os oriundos das Ilhas dos Açores, os primeiros colonizadores, trouxeram velhas lendas daquelas terras. Aqui encontraram os índios com sua cosmogonia, sua pedagogia através dos mitos, sua explicação do mundo, sua escatologia. Depois os negros, sobretudo os do Daomé, hoje Benin, praticantes do Vodu, com seu panteon, o animismo de sua religião, seu totemismo, suas práticas rituais. Há os que voltam naquela cultura, que no Daomé denominavam de “revenant”, no idioma do colonizador. Ainda hoje existe a Casa das Minas, ali na Rua São Pantaleão, lugar de culto e de vida comunitária. Foi lá que nasceu e faleceu Mãe Andreza, mãe biológica do grande antropólogo maranhense, de vida rica e multifacetada, Manuel Nunes Pereira.

Pois bem. Agora tenho às mãos o livro “O Cavalo do Cão”, de Josy Garcia. História? Romance? Tratado metafísico? Tudo isso, submerso num caldeirão místico. Há uma pergunta inicial, ponto de partida, ato fundador: “É possível existir um amor verdadeiro e carnal entre uma mulher e um espírito?”– indaga a autora. Há um clima onírico no relato, onde deambula a imaginação, e onde tudo é permitido. O universo da mente pode-se permitir todas as fantasias. E há um pano de fundo histórico, as almas vão e vêm,
vêm e vão, com muitas referências a leituras místicas. São vidas passadas e presentes (reencarnações), com seres predestinados, espíritos a cumprirem seus carmas, aparições mediúnicas.

Josy Garcia tudo se permite no campo ficcional. Seu livro louva-se em grande pesquisa histórica e doutrinária, fundado também em suas vivências pela ilha encantada de São Luís do Maranhão, com sua rica cultura, a despertar a imaginação e a propiciar a criação de obras literárias.

É um livro caleidoscópico, esse de Josy Garcia, que se assemelha, a meu ver, àquela literatura gótica que fez fortuna envolvida pela bruma, nas noites frias e mal iluminadas da Inglaterra do século XIX.

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Um documento histórico, atípico e romântico

Nehemias Marien

Ao felicitar a jovem Autora e minha querida amiga Josy Garcia, e ao rogar a benção divina sobre esta sinergia alquímica chamada “O Cavalo do Cão”, estendo o meu abraço transbordante da mais profunda admiração.

Dias desses batizei um espírito incorporado num pai-de-santo de um terreiro de Candomblé que se dizia atormentado no inferno por não ter sido batizado antes de ser assassinado e seria o seu batismo desejado presente de aniversário! Foi uma tarde de grande inspiração espiritual para todos.

No ano passado casei aqui na Igreja um policial civil, viúvo, com o espírito de sua esposa. À morte no hospital, ele prometera à esposa, com quem vivera feliz por três décadas, atender o seu pedido e casar-se com ela. Não foi fácil encontrar Igreja, pastor ou padre para cumprir a promessa. No dia do sacramento espiritual, paraninfado pela filha e neta, a Igreja, repleta de amigos, transbordava energia e luz.

Vê-se assim, por estes exemplos, que tanto dignificaram a minha ação pastoral, quão gratificante me foi mergulhar, de corpo e alma, nos originais deste verdadeiro documento histórico atípico, emoldurado pela linguagem descontraída e romântica dessa Josy Garcia que todos admiramos.

Não consegui ler o livro de um só folego e perdi o fio da meada. Precisei decodificá-lo, homeopaticamente, debruçado nele como um monjolo no pilão madrugada a dentro!

Amei “O Cavalo do Cão” e acredito nele. Envolvi-me no seu denso mistério quântico. Acho, sim, possível existir um amor verdadeiro e carnal entre uma mulher e um espírito. Sinaliza o Sacramento Eucarístico, como a hóstia visível e o espírito invisível que a Igreja celebra no altar.

Pode voar, Josy! E voe alto. O céu é infinito e suas asas são possantes.

Ao felicitar a autora parabenizo, efusivamente a Yorubana do Brasil Sociedade Cultural por mais esta contribuição imperativa à cultura do país.