A Chama do Coração
uma releitura das obras de
Caio Miranda


Autor:

CAIO MARIO DE NORONHA MIRANDA, nascido em Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 16 de março de 1909.

De família católica e brasileira, filho do meio entre seis irmãos. Desde pequeno era de temperamento contemplativo e ligado às belezas da Natureza. Aos sete anos costumava admirar uma montanha que podia avistar da janela do seu quarto. Quando um dia, já com mais idade, questionado por seu pai sobre o que estava olhando, ele alegremente quis compartilhar sua maravilhosa visão e, qual não foi seu espanto quando seu pai disse que não via nada, que não havia montanha alguma ali. Por isto foi levado ao médico. Enquanto na antessala do consultório esperava seu pai conversar com o doutor, um livro chamou-lhe a atenção. Era “A Voz do Silêncio” de Helena P. Blavatsky que, para estranheza do pai, muito o interessou.

O médico tinha conhecimento do potencial da mente humana e dos diversos estados, planos e dimensões da matéria. Após cuidadoso exame clínico, tranquilizou o pai, dizendo que o menino era sadio, mas que precisava de uma educação mais conveniente e compatível com sua sensibilidade. Era uma criança bastante precoce.

Foi enviado então para um internato, colégio de padres em Minas Gerais, no centro do Brasil.

Sempre questionador e interessado em assuntos não muito comuns à sua idade, gostava de conversar com os religiosos sobre quem era Deus e como Ele agia. Suas visões de lugares e seres etéreos continuaram aparecendo em momentos de recolhimento e prece.

Por influência de seu pai militar, após essa época, foi estudar no Colégio Militar do Rio de Janeiro, então
capital do Brasil, também em regime de internato.

Bom aluno, destacava-se como excelente orador. Seguiu a carreira militar, chegando a general das Forças Armadas do Exército.

Seu interesse pela saúde sempre o acompanhou. Gostaria de ter cursado medicina, mas tendo se casado muito jovem, o compromisso com o sustento da família não lhe deu esta oportunidade. A faculdade era onerosa.

Casou-se em 1927 com Helena de Cerqueira Lima, com quem teve duas filhas, Leda e Lia — posteriormente suas colaboradoras e sucessoras no ensino das práticas yoguis.

Embora brilhante como oficial militar, nessa época capitão de Cavalaria, não se sentia realizado. Tinha certeza de que aquele não era seu verdadeiro caminho, o que se evidenciava por uma insatisfação interior, traduzida como um vazio na alma. Havia permanente inquietude, e esses conflitos internos acabaram resultando em manifestações psicossomáticas como dores no corpo, insônia, cansaço e falta de ânimo.

Justo nesse momento quase insuportável, ao tomar a condução de volta do trabalho para casa, pisou num livro caído no interior do ônibus. Como o dono não estava mais lá, sentou-se a folheá-lo. O título, “14 Lições de Filosofia Yogue”, do autor intitulado Yogi Ramacharaca, o americano William Walker Atkinson, que usava este pseudônimo em suas obras.

Este fato ocorreu em 1937 e foi um marco de abertura do novo caminho, o espiritual. Havia encontrado “o seu caminho”, e agora iria percorrê-lo.

Como pesquisador e autodidata, a partir daí adquiriu e leu todas as obras existentes no mercado sobre esta milenar filosofia oriental.

Através dos ensinamentos adquiridos com as leituras, iniciou suas práticas pessoais, baseadas principalmente num conjunto de respirações, exercícios físicos e meditação. Em pouco tempo recuperou sua saúde física e psíquica, e o mais importante, a paz interior, a experiência de intenso regozijo espiritual.

Para complementar seus estudos sobre a origem e a constituição do homem, ingressou na Sociedade
Teosófica Brasileira, onde em 1947 foi convidado a dar aulas de Yoga, sendo sua primeira atuação como professor desta filosofia.

Nesse período as práticas de meditação foram intensificadas, o que lhe proporcionava maior clareza mental e o ajudava na programação e conteúdo de suas aulas. Foram anos de maravilhosas vivências, que contribuíram para aprimorar todos os segmentos de sua vida.

Em 1950 foi convidado por Getúlio Vargas, então Presidente da República, seu amigo pessoal, para colaborar com o governo. Como não podia declinar de uma requisição deste porte, e também porque havia dentro de si, sempre presente, o ideal de um mundo melhor, não se furtou a esta solicitação, embora sabendo da densidade energética que costuma envolver o mundo político.

Foi então designado diretor da Agência Nacional, órgão oficial de divulgação de todos os assuntos de interesse nacional.

Teve alguns cargos políticos, mas esse não era definitivamente o seu caminho. Tão logo foi possível, afastou-se dessas atribuições.

Retornando de corpo e alma para o Yoga, agora também com intenções de divulgação, começou a escrever sobre todas as suas pesquisas e, simultaneamente, a dar aulas teóricas e práticas em sua própria casa para os amigos. O grupo foi crescendo, e a casa não comportava mais.

Em 1958 abriu o Instituto de Yoga do Rio de Janeiro, em Ipanema, o primeiro de uma série, para atender às solicitações de outros bairros da cidade.

No ano de 1960 publicou “A Libertação pelo Yoga”, o primeiro livro editado no Brasil por autor brasileiro sobre filosofia yogui, dando início a uma série de outros que foram lançados em curto intervalo de tempo: “Só Envelhece Quem Quer”, “Assim Ouvi do Mestre”, “Hatha-Yoga, A Ciência da Saúde Perfeita”, “Vence a Tua Angústia com a Laya-Yoga”, “Ajude a Curar sua Neurose”, “Hatha, ABC do Yoga”, “Laya-Yoga” e “A Grande Chama”.

Havia programação para outros lançamentos. Infelizmente, tão precoce como sua vida foi sua morte. Caio Miranda faleceu em junho de 1969, deixando preciosa contribuição para a qualidade da vida. Uma vida com mais consciência, responsabilidade e saúde, não só para os brasileiros, mas para todos que leiam sua obra, em qualquer lugar do mundo.