A Chama do Coração
uma releitura das obras de
Caio Miranda


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Introdução

Observe um fato extraordinário: o homem é o único ser para o qual a vida constitui problema.

Entretanto, as escolas filosóficas, religiões e doutrinas científicas afirmam ser ele o Rei da Criação. Algumas chegam a assegurar ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, um pequeno demiurgo em potencial que se tornará um dia, próximo ou remoto, igual ao seu Criador.

Por que então está o sofrimento tão intimamente ligado à nossa vida? Teremos realmente de pagar tão pesado tributo pelo simples consolo de conhecermos vagamente nossa nobre linhagem?

Por outro lado, compensará termos consciência de nossa própria identidade, sermos autoconscientes, unicamente para constatarmos nossas intrínsecas dificuldades?

Olhe em torno de si. Há alguém realmente feliz? Conhece algum ser humano que tenha resolvido todos
os seus problemas?

Os animais, no entanto, vivem despreocupados. Nenhum deles experimentou a angústia, a apreensão pelo futuro, o receio das enfermidades, o pavor do insucesso e o temor da morte.

Não seria então melhor sermos irracionais? A resposta será encontrada dentro de cada um.

Lembra-se da sua infância? Quando você era irresponsável e só desejava brincar? No entanto, seus pais o mandaram à escola, e lhe impuseram uma série de “sacrifícios” para que você se tornasse útil a si e aos seus semelhantes. Jamais você condenará os esforços que lhe exigiram naquela época, quando julgava sinceramente que a melhor coisa na vida era viver despreocupadamente, alheio às responsabilidades e aos deveres.

Agora que se encontra na grande escola da vida adulta, é o seu próprio mestre. Compete a você transformar os fantasmas da dor em sábios instrutores, que o ajudarão a compreender melhor a beleza da existência.

Os pássaros, que você talvez inveje na sua deliciosa liberdade, são, como todos os outros animais, estágios inferiores da evolução da Vida. São eles “crianças” da grande Obra Universal, que algum dia, na condição de seres mais adiantados, hão de ir à grande escola – que é a individuação. Então poderão colher experiências, assumir responsabilidades e, sobretudo, desenvolver essa coisa sublime que é a diferença capital entre o homem e os animais: a sensibilidade consciente. Por meio dela é que você irá compreender seu papel no grande drama do mundo e suas obrigações no caminho da evolução cósmica e humana.

Nossa sensibilidade foi criada pela Natureza para nos servir, possibilitando a evolução e o progresso, e não para causar inquietações. Se utilizada no sentido negativo, nos lançará nos abismos do sofrimento e nas trevas da angústia; se desenvolvida para o lado positivo, nos dará a medida com que aferir a grandeza de ser humano e desfrutar as delícias da verdadeira felicidade.

Sofrimento e ventura são construídos ambos do mesmo material: a sensibilidade. Assim como um artífice medíocre faz de fino material uma obra de pouca qualidade, o artista genuíno é capaz de elaborar com ele uma obra imortal.

Lembre-se de que o Homem é realmente a obra-prima da Criação.

Torne-se essa obra. Isto é possível, porque o artista e o material são você mesmo.

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