A Conexão
Como Encontrar o Elo entre o Humano e o Divino


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Infância

Existia um POTENCIAL PURO, eterno, com um imenso poder criativo e infinitas possibilidades de se manifestar.

Assim era eu, quando criança, querendo descobrir o mundo ao meu redor dentro da minha pequena estatura. O que eu via à minha volta era grandioso, e o que ouvia eram vozes que não podia compreender, mas as sentia plenas de profundo significado.

E assim fui crescendo... crescendo, até que um dia, ao completar 7 anos, fui à escola, junto com outras crianças, que seriam meus companheiros de estudo, e comecei a aprender as primeiras letras do alfabeto, os números e tantas outras coisas... Era como um mundo novo que se descortinava diante de mim, pois até então eu só pensava em brincar, brincar e brincar. Mas a partir daquele dia tinha que prestar atenção ao que as professoras diziam, além do que diziam meus pais, me adaptar a horários e fazer deveres. Mas esperava ansiosamente a hora do recreio para voltar a brincar.

Até então, o mundo me parecia maravilhoso, não via defeito em nada, embora certas coisas não me agradassem plenamente.

O fato de perceber que minha perna direita não acompanhava o mesmo ritmo de crescimento da outra
não me incomodava de modo algum, e eu continuava maravilhado com o mundo à minha frente, com a diversidade de formas, com os animaizinhos com os quais experimentava e alimentava grande amizade, principalmente as joaninhas, os sapinhos, os pássaros, com sua possibilidade de voar, as formigas e as borboletas. Era um mundo mágico! E eu me sentia feliz sem, entretanto, saber o que era felicidade.

Quando crianças vivemos no mundo da inocência, no aqui e no agora, pois ainda não temos nada ou quase nada acumulado no passado, talvez alguma experiência traumática, que ficou impressa num “agora” anterior, ou resumindo, não temos passado, vivemos no momento presente, com todas as suas consequências.

Assim, se tivesse uma mente desenvolvida, concordaria com o grande escritor e poeta indiano Rabindranath Tagore (autor de poemas de inspiração mística ou patriótica, romances e peças – Prêmio Nobel de 1913), que escreveu: “A vida não é senão a contínua
maravilha de existir...”

Além disso, não gostava da ideia de ser adulto, queria ser sempre criança, como Peter Pan (mais para frente voltarei a me referir à história de Peter Pan).

Mas como vida implica movimento, crescimento e desenvolvimento contínuos, fui crescendo cada vez mais e perdendo aquela gostosa inocência, quanto mais ouvia os ensinamentos transmitidos pelos meus pais, minhas professoras e governantas – tive duas, uma de nacionalidade alemã, que veio primeiro, e mais tarde a outra, de nacionalidade francesa. Com elas aprendi o alemão, para conversar com meu pai, o francês para dialogar com minha mãe e meus avós maternos, ademais das regras de etiqueta, como era costume na educação europeia.

Lamentavelmente, por não cultivar nenhuma das duas línguas, pois meu pai não falava francês nem minha mãe o alemão, fui com o tempo esquecendo, principalmente quando minhas governantas completaram minha educação e não mais residiam em nossa casa.

Enquanto isso, vou descrever sucintamente a época em que eu vivia e alguns acontecimentos que me marcaram, como também a muitas pessoas que viveram naquele período da nossa História.

Eram os idos de 1943, em que o mundo atravessava a Segunda Guerra Mundial, que ocorreu de 1939 a 1945 – e o Brasil aliou-se aos Estados Unidos, contra a Alemanha; esse fato fez com que muitos alemães que viviam aqui fossem considerados inimigos.

Nessa época, meu pai, juntamente com vários alemães que residiam em Petrópolis, foram presos e conduzidos a penitenciárias, onde ficaram até o término do conflito. Isso ocasionou a perda da pequena indústria de malhas que meu pai mantinha na cidade – a Malharia Pólo Norte (ele era engenheiro e técnico têxtil).

Meu tio, Bruno Leopold Werner, foi afastado da direção da Fábrica de Tecidos Werner, e um interventor foi designado pelo governo para administrá-la e orientar a fabricação de seda, para paraquedas. Muitos alemães foram perseguidos e tiveram seus bens confiscados.

O medo e a discriminação imperavam naquela época, como podemos ler nos livros de História e assistir nas películas que os vencedores da guerra fizeram. O ódio e a revolta foram espalhados pelo mundo. Lembro-me ainda do dia em que o Mahatma Gandhi foi assassinado por um extremista hindu, na época em que o líder político e espiritual do povo indiano procurava aplacar as violências entre hindus e muçulmanos (1946 – 1947).

Petrópolis amanheceu num silêncio total. Senti como se o mundo tivesse parado naquele dia. As notícias se espalharam rapidamente pela cidade, e comentários se escutavam em todas as esquinas.

Daqui para a frente darei um salto no tempo, para passar para...