O Espiritismo
e suas Repercussões na Subjetividade

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Trajetória de Allan Kardec

Nascido em Lyon em 3 de outubro de 1804 e registrado como Hippolyte Léon Denizard Rivail, o futuro codificador do Espiritismo pertenceu a uma família tradicional, cujos antepassados voltaram-se para áreas do Direito e da Magistratura exercendo, portanto, uma certa influência na escolha profissional deste jovem. Tornou-se bacharel em Letras e em Ciências e doutor em Medicina, e dedicou boa parte de sua vida a trabalhos de tradução, preparo de cursos, serviços de contabilidade e publicação de livros. Até então, era um homem voltado exclusivamente para o meio científico, sendo amplamente “reconhecido e respeitado devido à sua inteligência e extrema dedicação na carreira pedagógica” (Kardec [1803 – 1869], 1999:14).

Em 1854, em virtude dos fenômenos das mesas girantes que ocorriam na casa de um magnetizador, Sr. Fortier, com o qual Rivail mantinha relações devido aos estudos sobre magnetismo, obteve a primeira informação a respeito destes acontecimentos. Sua postura, num primeiro momento, caracteriza-se pelo ceticismo:

(...) Eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono (id. ibid.:14).

Devido ao avanço destes acontecimentos, no ano de 1855, Rivail inicia seu contato com as reuniões na casa do Sr. Fortier, com o único propósito de observar a ocorrência destes fenômenos. Estes, por sua vez, suscitaram no futuro codificador da doutrina um interesse voltado para a causa daqueles acontecimentos por ele mesmo testemunhados. Em seus manuscritos registra o seguinte:

(...) Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos ainda por efeito de revelações que por observação. Apliquei a essa nova ciência, como até então o tinha feito, o método da experimentação; nunca formulei teorias precon-cebidas; observava atentamente; comparava; dedu-zia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores, desde a idade de quinze a dezesseis anos. Compreendi, desde o princípio, a gravidade da exploração que ia me empreender. Entrevi nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro, a solução do que havia procurado toda a minha vida; era, em uma palavra, uma completa revolução nas idéias e nas crenças; preciso, portanto, se fazia agir com circunspecção e não levianamente, ser positivista e não idealista, para não me deixar arrastar pelas ilusões (id. ibid.:16-17).

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