A Estupenda Comédia


A idéia de cremação, aceitei-a bem. Melhor que ser comido pelas minhocas - justifiquei. Já a de espalhar cinzas ao vento, levei tempo para aceitar a idéia. Sempre achei que as pessoas deveriam ser sepultadas. Mesmo que fosse apenas o seu pó. Ter a última morada. Um domicílio conhecido, com o nome na porta, um lugar que pudesse ser visitado.

Quando pensei que Apolônio, ao contrário de quase toda a família, não iria descansar no nosso "pequeno mausoléu", lembrei-me de Anna. Ela abominaria a idéia da cremação. E a de espalhar as cinzas, mais ainda. Onde é que já se viu uma coisa dessas? Na frente do que iriam as pessoas ajoelharem-se para rezar pela alma do irmão? Sacrilégio!... Além do mais, Anna tinha certeza de que somente as nossas preces poderiam salvar o irmão herege do fogo do Inferno.

Na verdade, Apolônio nunca me pediu que levasse suas cinzas para a Itália. Numa das visitas que lhe fiz na casa de repouso, disse-me que gostaria de ser cremado. Pediu-me que cuidasse de registrar a sua autorização. Da papelada necessária. Quanto ao que fazer das cinzas, ficasse a meu critério. Depois, mudou de idéia: - Jogue-as no Mangue - sugeriu."...

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