A Estupenda Comédia


Resenha:

Perto de completar sessenta anos, Rego - um executivo de vida solitária - tem a sua monótona rotina perturbada por dois acontecimentos: primeiro, sua aposentadoria, após trinta e cinco anos de trabalho; segundo, revelações sobre sua família, feitas por um tio, dias antes de morrer. Como se tratava de uma pessoa a quem Rego era muito ligado, ele decide prestar uma última homenagem ao parente, levando suas cinzas para a Toscana, e espalhá-las na cidade onde o tio nasceu. Nessa viagem à Itália, ainda aturdido com o que acaba de descobrir sobre seu próprio passado e o da sua família, repassa toda a sua vida.

E assim, temos aqui um romance bom de ler, no qual se destaca o estilo criado para o narrador: irônico, ágil no manejo da linguagem, mas principalmente afetivo - o que ele está contando tem importância, merece ser lido, porque é de sua carne e sangue que está falando, e a gente sente isso logo nas primeiras linhas. O narrador conta em episódios singulares a história de sua família, e torna os pequenos dramas familiares - que toda família vivencia e guarda em sua história - em algo relevante, universal, extirpando todo o prosaísmo, ressaltando uma deliciosa observação de personagens ternamente ricos, mais ricos e ternos do que se observássemos meros seres humanos. É o afeto (o olhar) do narrador que lhes dá potência.

Luiz Antônio Aguiar