Você Tem Obrigação de Ser Feliz

Resenhas:

Por Nelson Lyra
Escritor, Especilista em Eneagrama e Adminstrador de Empresas

Enfim, li seu livro. Quando cheguei com ele, estava lendo um outro e Monica pegou pra ler. Depois a Myriam, depois o Rogerio, depois o Eduardo, depois a mulher dele, e foi circulando em Pipa. Acabou voltando para mim. Li de uma vez só. Peguei de manhã e passei o dia lendo. Em comparação com o que eu lia antes, aqui quase não leio. Em outubro completo dois anos em Pipa e acho que neste período não cheguei a ler nem 20 livros. Nos tempos em que eu não via televisão minha média era de 4 livros por semana.

Lendo seu livro me lembrei do Paulo Coelho, não pelo texto, que o seu, pelo menos para o meu gosto, é muito melhor, mas pelo propósito. A propósito, o livro dele que mais gostei foi aquele em que pede desculpas por estar escrevendo fora do seu tema, aquele da puta na Suiça. Mesmo assim, como é incontrolável para ele, no fim dos capítulos existem umas reflexões pessoais da tal mulher que, a meu ver, aumentam o teor de colesterol do livro e principalmente as taxas de glicose. Como eu descobri recentemente que tenho a alma diabética, essas coisas me fazem mal.

Esses livros estão, geralmente, colocados em listas intituladas - Livros de Auto-Ajuda. Alguns conhecidos meus não gostam desta rotulação, mas eu acho que todo livro, quando é razoavelmente bom (nem precisa ser ótimo) é um livro de auto-ajuda. Qualquer que seja o tema. Quando leio Leon Uris, por exemplo, ele me ajuda a compreender a formação do Estado de Israel, as lutas na Polonia, etc. Quando leio Mika Waltari ele me ajuda a compreender a formação de Impérios, o início de algumas civilizações, Arthur Hailey me ajuda a entender várias instituições, e isso só falando de autores de muitos livros. Acho que isso talvez seja devido à minha maneira de ler. Leio para aprender. Se o autor consegue me ensinar alguma coisa - e quase todos tem algo a ser aprendido, mesmo que não seja aquilo que eles querem "ensinar" - e, ainda assim, me distrai, me encanta, considero, para mim, um bom autor.

Por que estou dizendo tudo isso, e por que Paulo Coelho? Porque nos seus livros e nos livros dele, existe uma proposta ou um apelo para que as pessoas pelo menos reflitam em outros níveis, só que, e posso estar cometendo uma baita injustiça, Paulo Coelho me dá a impressão de ser um colecionador de idéias, um costureiro, enquanto que você fala do seu mundo, de suas vivências e de suas reflexões. A diferença de qualidade é gigantesca. Usando uma de suas metáforas: Paulo Coelho lhe dá o peixe, algumas vezes a vara e a rede, e, ocasionalmente, até ensina a pescar. Você sai conosco de barco e lança a sua rede. Quem quiser pescar que pesque, com quem não quiser ou achar que não consegue pescar você partilha seu peixe e espera que o próprio peixe cative o paladar do navegante.

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Por Marcelo Pacheco
Jornalista

Quando as livrarias recebem um livro que tem a palavra "feliz" na capa, parece que acende uma luz vermelha no "departamento de prateleiras" e aí, um mecanismo desconhecido para nós leitores envia esse livro direto para o setor de auto-ajuda. E, embora o release de apresentação da editora indique o livro para a categoria romance, é comum o livreiro, meio incrédulo, folhear o livro imaginando que, se estivesse na prateleira de auto-ajuda, talvez vendesse mais. Romance brasileiro? Felicidade? Difícil! (Mas não impossível, caro livreiro.:))

Mas vamos lá, "Você tem obrigação de ser feliz" é romance mesmo e pronto. Quando folheei o livro, notei que o primeiro capítulo tem número 0 e não 1, e que lá estão listados alguns dos personagens, associados com alguns símbolos impronunciáveis. Depois, no capítulo1, a história começa em algum lugar do Universo, não se sabe ao certo se um outro planeta ou alguma nave. A autora não explica, conta apenas tratar-se de uma reunião entre seres que conversam sobre a Terra.

E aí pensei sobre o estilo: ficção científica? Talvez. A história segue já em nossa nave-mãe, a velha Terra e continuo a leitura, talvez incentivado por uma certa discordância da obrigação com a felicidade presente no título, querendo logo descobrir o que é isso, se até ser feliz agora virou obrigação e não direito!

Apanhado pela trama, percebo aos poucos que essa obrigação é para lá de metafísica, temos todos uma missão a cumprir e para isso viemos ao planeta, plenamente aparelhados para cumpri-la, e só assim nos sentiremos realizados e felizes, utilizando todo o potencial que, literalmente, Deus nos deu.

A história vai sendo narrada quase como se fosse o roteiro de um filme, às vezes faz chorar, às vezes rir, confesso: eu, um cético em tempo integral, não consegui largar o livro. "Você Tem Obrigação de Ser Feliz" é desses que prendem do início ao fim.Pensei logo nos fãs de Castaneda, Richard Bach e Doris Lessing.

Se não é ficção científica, será realismo fantástico? Romance espiritualista? Romance de idéias? De fato, é difícil definir o estilo deste livro que narra uma história meio mágica, alguns trechos passados nos meandros da Internet, outros de um romantismo até ingênuo e outros ainda de filosofia pura.

Este comentário está meio mirabolante? Talvez, mas é um relato fiel da impressão que me causou este livro... quem ler, verá.

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Por Maria Lúcia Martins
Jornalista

Há momentos na vida em que nos perguntamos com mais insistência se somos felizes. Aparecem anseios e planos - às vezes, mirabolantes - para mudar o cotidiano. Mas, sem que saibamos, as mudanças que queremos estão acontecendo, silenciosamente.

Um fato inesperado provoca a desorganização necessária para que os personagens deste livro passem a trilhar outro caminho. A princípio tudo parece um tanto fantástico, até que, pouco a pouco, se elucidam os mistérios deste mundo estranho tão próximo, no qual somos antigos viajantes.

É desse estranhamento, com que convivemos a cada dia, que nos fala a autora deste livro.

Você Tem Obrigação de Ser Feliz é uma deliciosa provocação aos nossos sentidos e à nossa mente, acomodada aos padrões comuns de pensamento. A trama invade os campos da rotina e os desafios enfrentados pelos personagens põem o leitor ante um espelho mágico onde, em vez de gênios e perguntas comuns aos contos de fadas, há a afirmação contundente de que é obrigatório ser feliz.

Em sua primeira obra, Eliana Leal nos convocou a não abrir mão de nossos sonhos. Agora nos lança num horizonte mais distante e igualmente questionador.