Mesa
Redonda
À
mesa redonda, imensa, estava sentado na cadeira mais alta um senhor
de rosto liso, olhos vivos e sorriso manso que, a um simples olhar,
comandava os inúmeros auxiliares sentados ao redor da mesa. No
seu todo era o retrato da brandura, não dava para distinguir
a sua idade. Dir-se-ia, porém, que representava a eternidade,
que também seria a idade dos auxiliares.
A mesa era como um grande mapa juncado de estradas. Estradas largas,
floridas, e caminhos estreitos cheios de espinhos. Por cima da mesa,
como leves passarinhos, anjos mexiam os alfinetes coloridos, transferindo-os
de uma estrada para outra ou para algum caminho estreito cheio de espinhos.
Havia alfinetes luzidios, brilhantes, alguns emaciados e não
poucos enferrujados.
A função dos anjos, digamos passarinhos, era, também,
tirar viajantes das estradas e caminhos, colocá-los em repouso
para, anos depois, quem sabe dias, retorná-los aos caminhos,
em estradas coloridas ou esburacadas, considerando como se haviam conduzido
na viagem anterior.
Apenas sonhos. Sonhos lindos, pelas feições mansas do
comandante com ares de eternidade; pelo número de estradas que
se cruzavam; pela imensurável quantidade de alfinetes nas estradas
e caminhos.
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