A Invenção da Vida

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Como apresentar Adriana? Quando ela me fez o convite, pensei em uma apresentação formal, do tipo: Adriana Bacellar Leite e Santos é jornalista e escritora. Trabalhou em “O Globo” e “Jornal do Brasil” e foi correspondente, nos Estados Unidos, da extinta “Revista de Comunicação”. Publicou o livro “Os meios de comunicação como extensões do mal-estar” pela editora Mauad, e fez pós-graduação em Mídia Empresarial no Georgia Institute of Technology (Ga.Tech, EUA) e em Psicanálise na Universidade Federal Fluminense.

Nasceu em Macaé, em 7 de junho de 1964, dois dias depois de o seu pai, o então vereador e médico, Dr. Ricardo Moacyr, ter sido solto. Ele foi preso político e considerado “desaparecido” por dois meses, após o golpe de 31 de março daquele ano. Nascida sob o signo da ditadura militar, pautou a vida pela busca da liberdade.

Mas uma apresentação desse tipo diz muito pouco sobre Adriana. Onde ficaria a escritora sensível que, ao comentar o massacre de Beslan no jornal “O Globo”’, escreveu um texto de tal forma tocante que foi convidada para discutir o tema no programa “Observatório da Imprensa” pelo próprio Alberto Dines, que classificou ainda a sua escrita como sendo de “rara maestria”? Como colocar em uma apresentação formal a beleza das suas crônicas e a defesa pungente dos direitos humanos, que fez com que ela ganhasse o ‘I Prêmio de Direitos Humanos’ da ONG Milagre da Vidda em parceria com o Programa Nacional DST/AIDS-MS, UNESCO?

Então vamos deixar a Adriana de lado e tentar apresentar suas crônicas. Mas como fazer uma apresentação à altura do texto de Adriana, que mistura a técnica da jornalista com a sensibilidade da psicanálise para dar novo colorido ao cinza do dia-a-dia? Como rivalizar com o seu olhar agudo e atento que, focando nos pequenos detalhes, nos faz pensar sobre os grandes mistérios do mundo?

A melhor solução é deixar que o leitor se delicie com o texto refinado e apreenda por si mesmo a erudição suave que brota de assuntos aparentemente banais como o amor e o bicho-papão. Percorrer sem pressa as crônicas que compõem este livro é ganhar um outro olhar sobre o cotidiano e também uma bela apresentação da Adriana, que se revela aos poucos através da sua pena.


Miriam de Oliveira Santos
Doutora em Antropologia Social e
Professora da Universidade Federal Rural (UFFRJ)