João Agitadão

Resenha:


A medicina, assim como a psicologia clínica, também tem “modas”, ou seja, em certas ocasiões há tendência para se formular excessivamente um determinado diagnóstico ou propor uma nova terapêutica. Depois de algum tempo, havendo maior observação, mais bom senso e melhores investigações científicas ou técnicas, a “moda” ou desaparece e fica apenas como um dado histórico ou passa a ser, ao menos em parte, um real avanço na compreensão dos transtornos.

A psiquiatria e a psicologia infantil não poderiam fugir de tal situação. Uma das “modas” atuais é a entidade clínica denominada “transtorno de déficit de atenção com hiperatividade” (TDAH). Esta mesma entidade já recebeu outras denominações, tais como “disfunção cerebral mínima”, transtorno que um experiente professor de neurologia chamava ironicamente de “confusão neurológica máxima”. Tal entidade é de difícil caracterização e, pior ainda, de complicada avaliação de sua intensidade. De fato, acaba designando crianças ou adolescentes que têm realmente alguma disfunção em suas atividades motoras e perceptivas mas também jovens que têm apenas algumas características individuais que não se conformam inteiramente com as exigências familiares ou sociais, como a escola.

Os pais e a escola esperam que as crianças sejam atentas, quietas, educadas, dedicadas às coisas que interessam a eles mas não necessariamente a elas, crianças, e assim por diante. Quando tal não ocorre, atualmente há a tendência de considerar tal coisa uma anomalia e enquadrá-la no TDAH. Esquece-se que as crianças não vivem mais em casas com terrenos, árvores, lugares amplos onde podiam desenvolver a necessidade de atividades motoras e os brinquedos naturais tão comuns na época anterior aos “apertamentos” das residências atuais. Esse diagnóstico, quando mal formulado, transforma-se numa camisa-de-força para tolher a naturalidade de tais infantes e, o que é ainda pior, justifica o uso de medicação controladora do comportamento.

O livro de Lia Moraes é um alerta contra tais abusos, pois visa mostrar que as crianças são diferentes entre si e não são “obrigadas” a se conformar com determinados requisitos, que muitas vezes são antinaturais. Deve ser lido obrigatoriamente por pais, professores, pedagogos, médicos pediatras, psiquiatras e psicólogos infantis.

Miguel Chalub
Professor Adjunto de Psiquiatria da UFRJ e UERJ