Poema, Pão e Pedra

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Ofertório

O que não me admira, nem ao menos me ama;
O que não me sabe o nome, nem pretende sabê-lo;
O que nunca percebeu minha presença,
estacada no mundo,
com sua plausibilidade de absurdo;
O que desconhece meu desígnio, meu brasão:
estas lanças estapafúrdias cruzadas no meu peito
– ardidas e corrosivas lanças,
obrigando-me sempre a mover o sentimento
contra o que às vezes é minha sorte e realização:
o fruto perdido e cobiçado
de minha coerência pronominal,
egocêntrica, descalabrada...

O que jamais me procuraria para pedir
coisa alguma. Que me agrediria sem me conhecer;
O que cuspiria no meu rosto e riria,
cínico, de minha face maltratada;
O que não me perdoaria e que,
no momento mais agônico de minha vida,
sem piedade me invadiria a espada;
O que não me teria como irmão (antes, inimigo).

Este,
canalha fratricida e impessoal,
merece, sem dúvida, a dor de meu poema
e o ataque ensandecido do meu estro.