A pequena Clara
Se
a Amazônia é o pulmão do mundo, imaginem como é
seu coração. O pulsar mágico desse lugar, com certeza
um mistério sem fim, é inexplicável.Só dando
asas à imaginação. Talvez rios cruzando-se em uma
imensidão infindável, muitas cachoeiras e lagos coloridos
pelos reflexos das matas e seus matizes, nuances multicores formadas
por raios do rei sol e muitas cavernas habitadas por duendes e gnomos.
Quem sabe? Pode ser? A magia da Amazônia é tanta, que nos
leva a uma resposta: Deus existe e mora aqui. Senão, como explicar
o espetacular show da natureza que nos dá tanta beleza e nos
faz sonhar ao ouvirmos o barulho das águas fundirem-se com o
bater de galhos e folhas?. Isso tudo acontece regido pelo senhor maestro,
o vento, e tendo como bailarinas as árvores. E é nesse
cenário surreal que começa a nossa história.
Num povoado ribeirinho, que se chama Esperança, habitado por
pessoas simples, os homens pescadores, as mulheres artesãs. Numa
manhã ensolarada, crianças na beira do rio brincavam,
marcando os pés na terra mole misturada à areia, e, assim,
como se fora uma competição, quem fizesse as pegadas mais
fundas seria o vencedor. Nesse grupo de meninos havia um de quem os
amigos zoavam muito, pois era esperto e rápido mas gago. Chamava-se
Toinho, era o mais popular entre eles. De repente, tentava falar:
Eu, eu, vou, vou, lá, lá.
Antes que alguém dissesse:
Para!
Um dia, em ensolarada manhã, Toinho atirou-se no rio nadando
em direção a uma cestinha, que deslizava suavemente sobre
as águas. Seus
amigos, ansiosos, esperavam sua volta, e ele chegou ofegante, mostrando
o que estava dentro da cesta. Todos ficaram mudos de espanto ao verem
uma menina branquinha, de cabelos louros e encachiados, e de olhos azuis.
Parecia uma boneca, peladinha, sorrindo e batendo palminhas. Toinho
olhou para a turma, estufando o peito, disse:
É! É minha irmã sentindo-se um fiel
escudeiro.
A menina trazia presa ao pescoço uma delicada fita com uma plaquinha
de plaquê trazendo escrito o seu nome, Clara. Havia
também uma caixa pequenina, fechada por uma chavezinha. Não
era a caixa de Pandora, mas a caixa de Clara.
Zeca, o mais velho do grupo, achou que deveriam pedir ajuda a alguém
para resolver o que fazer. Mas Toinho ficou nervoso, chorando muito.
Foi um Deus-nos-acuda para tentar acalmá-lo, mas em vão.
Não soltava a menina de jeito algum. E aí todos concordaram:
Vamos levar a menina para a casa do Toinho.
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