Nunca Abra Mão dos Seus Sonhos
Início:
Tudo
aconteceu em meados de 1995,na empresa Marketing, Reengenharia e Qualidade
Total, mais conhecida como MARQ.
Luíza entrou no departamento como sempre, atrasada. Passou o cartão na máquina de ponto eletrônico várias vezes até que fosse aceito e, como todos os dias, se perguntou por que era necessário começar o dia com aquele desafio, de passar o cartão de forma correta, nem muito depressa, nem muito devagar, nem muito para cima, nem muito para baixo, para que aquela máquina odiosa confirmasse, com o seu invariável "plim", que ela realmente tinha chegado à empresa. Entrou apressada, percorrendo o longo caminho que a levava ao seu posto de trabalho. O departamento fora projetado, aparentemente, para que o seu chefe pudesse ver toda e qualquer pessoa que entrasse ou saísse. Além disso, era tão grande o percurso que os técnicos tinham que vencer até chegar às suas mesas que a probabilidade de encontrarem o tal chefe no caminho era enorme. Esta probabilidade aumentava, não se sabia bem por que, em proporção direta ao número de minutos que a pessoa estava atrasada. Nesta época, chefiava o Departamento de Informática um argentino naturalizado, que ora tinha um comportamento extremamente impulsivo, ora demonstrava um maquiavelismo assustador. Competente, razoavelmente confiável, não chegava a ser querido pelos seus funcionários, porém poucos o odiavam. Rodriguez era considerado assim como um mal necessário, e a maioria das pessoas do departamento aceitava a sua liderança sem grandes entusiasmos, mas com a certeza de que era melhor que continuassem com aquele chefe, por vezes meio maluco, do que terem que se costumar com as loucuras de outro chefe, que poderiam até ser piores. Naquele dia, porém, a porta do chefe estava fechada, e Luíza respirou aliviada. O primeiro obstáculo havia sido ultrapassado. Agora, bastava entrar bem depressa, sentar em sua mesa e fazer uma cara de quem já havia chegado há muito tempo e ela estaria salva, pelo menos por enquanto. Quando finalmente chegou à sua mesa, abriu como sempre o correio eletrônico, para ver as mensagens que lhe tinham sido mandadas. De imediato, uma delas chamou a sua atenção. Por mais estranho que parecesse, o remetente era Ninguém Importante e, como assunto, dizia apenas SONHOS. Foi, evidentemente, a primeira a ser aberta. O texto era simples, porém completamente incomum. Não se referia a nenhuma solicitação de usuário, aviso de reunião ou qualquer outra coisa referente a algum sistema. Uma frase simples e direta ocupava quase a tela toda: Nunca abra mão dos seus sonhos! Luíza ficou paralisada olhando a mensagem. O que seria aquilo? Os destinatários da mensagem, uma longa lista, eram aparentemente todos os participantes do correio. O que aconteceria se respondesse, pensou. Aquele software de correio eletrônico tinha uma opção REPLY que enviava a resposta automaticamente ao remetente, não sendo preciso endereçá-la. Mesmo sendo o remetente Ninguém Importante, que evidentemente não era participante do correio eletrônico da MARQ, será que a opção funcionaria? Enquanto pensava em como responder, o aviso já conhecido, vindo do supervisor da rede, apareceu na parte de baixo da tela: A rede sairá do ar em 30 segundos Alguma coisa precisava ser feita e rápido. Luíza não queria perder a oportunidade de se comunicar com uma pessoa que tinha coragem suficiente para fazer aquilo. Rapidamente selecionou a opção REPLY e digitou: |