O
rapaz entra pela fresta abrindo vagarosamente a porta do recinto onde
está o Mestre. O velhinho de túnica azul e barbas longas
permanece sentado de pernas cruzadas como um guru indiano esperando
ser útil com sua sabedoria. A porta, ao se abrir, deixa um facho
de luz entrar no recinto e expõe o largo sorriso do Mestre, que
jamais havia se queixado de sua sorte, apesar de viver de maneira simples.
O
fiel entra devagar, reticente, como um católico que se aproxima
de um padre para confessar seus pecados. Traz consigo o peso de seu
infortúnio, a carga de suas dúvidas e a expressão
de sua dor. Aproxima-se e senta-se à frente do Mestre. Olha-o
nos olhos com uma expressão pálida. O senhor apenas continua
sorrindo e lança sua questão para permitir que o jovem
esclareça o motivo de sua presença:
Sim, meu filho, como posso ajudá-lo?
Mestre, dizem que o senhor tem muitos poderes. Pode ver o futuro
ou o passado de alguém bastando para isto olhar nos olhos.
Sim, é verdade continuou o Mestre com uma expressão
natural, indiferente ao rapaz. O que deseja saber? É sobre
o futuro, não é?
Sim, preciso conhecer o meu futuro.
Antes, posso adiantar que está passando por maus momentos.
Também posso afirmar que uma boa fase o espera.
O jovem arregalou os olhos, surpreso com as palavras certas do Mestre.
Obviamente, como um mortal, logo sobreveio a curiosidade de como ele
poderia saber, e indagou:
Como o senhor acertou? Como sabe que estou passando por um mau
momento? Sabe quando vou encontrar a paz?
Filho, a bem da verdade, nada adivinhei. Foi só um palpite
baseado na lógica.
Como? Palpite? Não estou entendendo. O jovem ficou
confuso e coçou a cabeça, esperando o Mestre esclarecer.
Normalmente, as pessoas criam uma ânsia muito grande para
saberem o futuro, justo no momento que o presente está mal. A
necessidade de ver o futuro é para saber se vão se livrar
dos problemas do presente. Quando as coisas vão indo bem, as
pessoas não se interessam tanto pelo futuro. Por isto, julguei
que está num mau momento.

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