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poesias


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Introdução

Minha vida é poesia

A possibilidade de transformar (traduzir) em palavras aquilo que sinto enche-me de vontade. E mais: arrancar do léxico o que não sinto e construir poesia, num exercício inverso, digestivo, de absorção, é um garimpo às avessas. É soterrar sob os lençóis freáticos da alma o ouro descoberto. O intragozo.

Quando a realidade não me permite o deleite, o devaneio, o sonho, quando as paredes mostram o limite, as palavras “cavam” túneis secretos, saídas ermas, porém, caminhos para uma liberdade que dura o quanto persistir a intensidade do impacto da palavra-joia a saciar a fome da alma.

Eu prefiro as palavras brutas. As palavras sem lapidação, as originais. Procuro palavras que completem os veios de esmeralda sob a profundidade do ser. E não me importa o brilho; sejam elas foscas, mas que sejam o resultado da alta pressão do tempo a condensá-las, a fazê-las duras, resistentes. Só por isso o diamante tem algum valor: o peso das camadas seculares, a introspecção para a purificação. O poder de corte sobre todas as outras rochas.

Vivo hoje para cavar estâncias para minhas pepitas. É nestas minas que deposito o meu discurso estéril. Nada precioso. Não garimpem nas linhas que escrevo qualquer valor. Vivo para enterrar ruínas, esconder o brilho das palavras dos olhos contaminados por mercúrio.

Não me impede de viver a poesia o “não” imposto aos meus ouvidos (quase surdos). E sobre os aterros minerais piso forte a apagar vestígios dos diamantes brutos que depositei, encravados à unha.