Depois da Tempestade


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Um escritor tardio e urgente

José Carlos Oliveira Freire (Paraty, RJ, 1922), o Zezito, como é conhecido em sua terra, começou a trabalhar ainda menino como professor, alfabetizando crianças em um grupo escolar da cidade de Cunha, Estado de São Paulo, onde também serviu na biblioteca e na secretaria da escola. Retornando à sua terra, ainda menino, foi prático de farmácia, enfermeiro, técnico de laboratório de análises clínicas. Foi vereador, e, filantropo, diretor de hospital por mais de uma década. Músico desde os quinze anos, contador a partir da mocidade e por toda a vida. Ainda hoje exerce essa profissão.

O escritor nasceu tardiamente, em 1991, aos sessenta e nove anos, quando o Jornal de Paraty publica suas crônicas sobre a história do município no século vinte. Um precioso contador de histórias é revelado. Em seguida, vieram os contos e os romances, "uma maneira de encher as tardes vazias", longe a intenção de publicá-los, o que fez sob o estímulo e insistência dos filhos. Observou-se então: Que texto! Que escritor! E lamentou-se: Ninguém sabia? Por que não publicou antes? Todos constataram: sua literatura era urgente, porque tinha qualidade, era necessária, tocava os sentidos, enchia os olhos e a mente, era arte. As suas vivências e convivências, múltiplas e acrescentadoras, plasmaram um exuberante criador e recriador de histórias, um inventor de vidas.

José Carlos Oliveira Freire é um escritor que comunica e emociona humanizando, com raro talento e habilidade, idéias e cometimentos, as falas e veredas da trama, toda a fenomenologia física, psicológica e factual do romance. Domina, com técnica e sem clichês, a construção do diálogo, descreve cenários e realidades com a plena ciência de seus elementos. Desenha perfis com notável conhecimento da alma humana, seus vôos e continências. Pratica, enfim, uma prosa rica e simples, muito adequada ao que pretende dizer e convencer, sempre numa dicção ficcional fluente, escorreita, atraente, verdadeira, sem cair, em nenhum momento, na vulgaridade, ou apelar para os recursos fáceis dos jargões e das cambalhotas estilísticas ensaiadas. Estamos diante de um escritor inteiro: prosa que cria, conta e encanta.

Marcelo Câmara