Tratado da Brisa Noturna

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Lembro-me de uma criança em uma noite que escapou ao tempo... um momento indefinido de uma primeira infância, quando ainda os pensamentos não tinham força. Havia penumbra no quarto, uma fraca luz azulada penetrava pela janela... e uma qualidade especial de silêncio se confundia com a luz, confundia-se com a noite e com a própria vida... a existência. Não se tratava de nada sobrenatural, mas tão-somente do que há de mais profundo e verdadeiro em nossas vidas.

Penso que, talvez, tal vivenciação, de silêncio imanente ou de plenitude própria, seja natural em uma consciência muito jovem que ainda não sofreu as marcas da dor nem os limites impostos pelo conhecimento abstrato e pela cultura como um todo. Um estado de “percepção pura”, uma espécie de mente não fragmentada, parece ser nossa consciência em sua forma original e que, talvez, possa ser resgatada.

Os escritos a seguir são um vislumbre de tal possibilidade, um reflexo daquela realidade... e uma expressão temporal daquilo que respira como eternidade...